QUEM SUCEDEU XERXES NO TRONO DA PÉRSIA? (1)


Autor: Willian H. Shea (2)

Resumo

Este artigo discute as evidências históricas para se considerar Dario, o filho mais velho de Xerxes e herdeiro do trono, com tendo sido o sucessor de seu pai por um curto período de tempo, até ser assassinado por um complô arquitetado por seu irmão mais novo, Artaxerxes, e um oficial da corte, Artabanus.

Abstract

This article discusses the historical evidences to be considered Darius, the oldest son of Xerxes and heir of the throne, having been its father’s successor for a short period of time, until to be murdered by a plot made by his young brother, Artaxerxes, and an official of the court, Artabanus.

Introdução

Uma interpretação padrão da história da antiga Pérsia em meados do quinto século a.C. é que Artaxerxes I seguiu seu pai no trono após o assassinato de Xerxes. Esta interpretação tem sido desenvolvida à partir de escritores clássicos, de lista de reis, e das linhas de tempo em tabletes de contratos em Babilônia que seguem esta ordem.
Desde que existem textos astronômicos helenistas que datam o assassinato de Xerxes no quinto mês persa-babilônico, ou seja agosto, a transição entre os dois reis têm sido datados no verão de 465 a.C., cerca de quarenta dias antes do ano novo judeu em 1° de Tishri.
Se os Judeus como Esdras, usaram um calendário de outono a outono e contaram o ano de ascensão, aqueles quarenta dias devem ter servido como o período da ascensão de Artaxerxes ou ano zero, e seu primeiro ano completo deve ter começado no 1° dia do mês de Tishri em 465 a.C. Isto deveria fazer também seu sétimo ano de reinado se estender do final de 459 ao final de 458, não do final de 458 ao final de 457, como intérpretes adventistas têm sustentado.
Mas este problema é complicado por dois fatores. Primeiro, houve um tumulto político após o assassinato de Xerxes. Segundo, inexistem fontes datadas para Artaxerxes no segundo semestre de 465 a.C.

Artaxerxes I
As fontes de Artaxerxes podem ser reexaminadas como seguem:

1. Fontes persas. Antigos tabletes de Persépolis datam o terceiro e quarto mês do primeiro ano de Xerxes, isto é, Junho e Julho de 464 a.C.3
2. Fontes babilônicas. Antigos textos pertencentes ao período de Artaxerxes em Babilônia vieram de Nipur e Borsippa, e ambos datam do sétimo mês do seu primeiro ano: outubro de 464 a.C.4
3. Fortes egípcias. O problema é ainda mais difícil no Egito, onde um papiro aramaico escrito em 2 de janeiro de 464 a.C. está duplamente datado para o ano de ascensão de Artaxerxes e ano 21 de Xerxes.5

Neste caso, o ano de reinado de Xerxes foi artificialmente prolongado após sua
morte em agosto por causa de irregularidades na sua sucessão. Desde que Horn documentou que os judeus em Elefantina estavam usando um calendário de outono a outono, é interessante que a data do reinado de Artaxerxes é seu ano de ascensão, e não seu primeiro ano, como deveria ter sido o caso, se ele chegou ao trono antes de 1° de Tishri.
Esta datação incomum é confirmada por Maneto, o cronologista egípcio do segundo século a.C., que coloca um sétimo mês de reinado para Artabanus entre Xerxes e Artaxerxes.6

4. Sumário das fontes cronológicas. Destas considerações das fontes egípcias, persas e babilônicas é evidente que não existem textos datados para a ascensão de Artaxerxes da última metade de 465 a.C., após o assassinato de Xerxes Antigos textos datados destas três áreas vieram do Egito, onde seu ano de ascensão é mencionado em Janeiro de 464 a.C.
Este primeiro ano de reinado é então mencionado na Pérsia no verão de 464 a.C., e seu primeiro ano é também mencionado no outono de 464 em Babilônia
Existem duas explanações possíveis para este fenômeno. Primeiro, pode ser simplesmente um acidente de preservação (ou não-preservação).
Após a repressão da revolta em Babilônia por Xerxes, textos desta região tomaram-se menos frequentes.
Por outro lado, essa ausência pode ter-se originado do curso dos eventos políticos no Império Persa após o assassinato de Xerxes. Aqueles eventos requerem uma explicação mais detalhada.

Artaxerxes_I_of_Persia
Antigas Fontes dos Eventos do Final de 465 a.C.

Nossa principal fonte para os eventos desse período é Ctesius. Ele foi um médico grego que serviu na corte de Artaxerxes II, o neto de Artaxerxes I. Viveu na Pérsia, falava a língua, e tinha acesso aos registros oficiais do palácio. Sua narração está como segue.7
Com a ajuda de um camareiro do palácio, Artabanus, um poderoso cortesão, assassinou Xerxes. Xerxes tinha um fi lho mais velho chamado Dario. Artabanus acusou Dario do assassinato do seu pai a Artaxerxes, o filho mais novo, e com seu apoio, ele executou Dario. Ele intentou fazer a mesma coisa com Artaxerxes … Informado por Megabyzus do complô de Artabanus, Artaxerxes matou Artabanus, depois, três dos seus filhos foram mortos numa batalha, após seu pai ser executado. A província de Bactria revoltou-se então contra Artaxerxes, mas após duas vitórias em batalha, o rei sufocou a revolta.8
Diodorus da Sicília (primeiro século a.C.) conta-nos praticamente a mesma história: Xerxes foi assassinado por Artabanus, que então responsabilizou Dario pelo assassinato e ofereceu a ajuda da guarda do rei para Artaxerxes punir seu irmão. Após matar o irmão mais velho, Artabanus colocou seus olhos no irmão mais jovem quando “ele viu que seu plano estava prosperando”. Artaxerxes, porém, o puniu com um golpe fatal e “tomou o controle do reinado”. Diodorus data estes eventos de acordo com o sistema romano na segunda metade do ano 464 a.C.9
O terceiro historiador clássico que se refere a esses dois eventos é Trogus Pompeius (1° séc. a.C. a 1° séc. d.C.). Ele diz que Artaxerxes ouvindo da traição de Artabanus, ordenou que suas tropas saíssem para uma revista. O jovem rei pediu para Artabanus trocar de roupa com ele nesta ocasião, e ele o fez, e quando estava desarmado, Artaxerxes o apunhalou para a morte.10
Em grande medida, Diodorus e Trogus Pompeius devem suas narrações à Ctesius ou fontes similares; mas eles também adicionam seus próprios detalhes.

artaxerxes I Darius III
Propalação Tendenciosa da Nobreza Persa

Deveria ser notado cuidadosamente que Ctesius não era uma testemunha ocular daqueles eventos, mas ouviu como relatado a ele duas gerações depois, filtrado através da família de Artaxerxes. Eles não eram observadores imparciais, eles queriam fazer Artaxerxes ser tão bem visto quanto possível e Artabanus e Dario serem vistos tão maus quanto possível.
Isto era um padrão técnico empregado por muitos reis antigos, incluindo persas. Note por exemplo, a justificação de Dario I na inscrição de Behistun por dominar o reino persa após a morte de Cambyses, e a justificação de Ciro para a conquista da Babilônia em sua inscrição num cilindro de argila.11
Assim, enquanto há indubitavelmente, um cerne de uma verdade histórica naquilo em que cada um desses escritores relata, seus registros tem sido colhidos através de uma visão favorável a Artaxerxes. Precisamos descer a um nível mais profundo do acontecimento para detectar o que realmente aconteceu.

Maiores discrepâncias

As três fontes concordam que Artabanus foi quem assassinou Xerxes. Isto é o ponto de partida dos eventos descritos acima. A questão então é: quem ocupou o trono após a morte de Xerxes? A resposta é óbvia: foi o primogênito Dario que era o príncipe herdeiro do trono. Artaxerxes era o filho mais novo e não estava em linha sucessória. As fontes de Ctesius
procuram minimizar este ponto, mas na realidade este é o curso que eventos naturalmente teriam tomado e certamente tomaram. As fontes de Ctesius não queriam admitir que Dario tornou-se rei antes de Artaxerxes, porque teriam que refletir negativamente sobre Artaxerxes.
O fato seguinte foi que Artabanus acusou o primogênito do assassinato do pai deles ante o filho mais novo, o que ele, Artabanus, realmente havia feito. A posição dos dois filhos deveria ser cuidadosamente notada. Dario era o primogênito que tinha ocupado o trono. Artaxerxes era o fi lho mais novo cujo status como príncipe não tinha ainda mudado.
Isto não era o caso de acusar um irmão contra outro irmão. Isto era um caso de acusação ao rei vigente por seu irmão mais novo, que era ainda um príncipe. O que estava realmente fazendo aqui era um complô para assassinar o rei então governante. A trama foi urdida por Artabanus e prontamente aceita por Artaxerxes, pois assim ele pôde ver como tomar o reinado do seu irmão. Isso não foi uma prática legítima do reinado por Artaxerxes, mas uma traição à qual deliberadamente anuiu com a intenção de tomar o reinado do seu irmão. Dario, não Artaxerxes, era o legítimo rei que veio ao trono após Xerxes.
Do ponto de vista de Artabanus, a trama falhou. Ele tinha matado Xerxes. Ele tinha matado Dario. Ele planejou assassinar Artaxerxes.
Artaxerxes pôde ver a direção em que os eventos estavam indo. Ele era somente um obstáculo que restava para Artabanus colocar a si mesmo no trono, o que claramente era o intento de Artabanus. Nesta batalha de matar ou ser morto, Artaxerxes saiu vitorioso.

Dario Rei
Um Novo Rei Dario

Sabe-se que, os seguintes reis de nome Dario são conhecidos que ocuparam o trono do Império Persa.

1. Dario I Hystaspes (522-486 a.C.);
2. Dario II Northus (423-404 a.C.) e
3. Dario III Codomanus (336-330 a.C.).

Não incluindo Dario, o Medo, do livro de Daniel, agora precisamos adicionar um quarto à linha dos governantes persas: Dario, o fi lho de Xerxes. Desde que os Darios II e III governaram depois dele, suas designações precisam ser mudadas para III e IV.
Quanto tempo este filho mais velho de Xerxes governou após a morte do seu pai em agosto de 464? Dois ou três meses seria uma proveitosa estimativa. Ele certamente governou menos de cinco meses, desde que Artaxerxes foi reconhecido rei do Egito em Janeiro de 464 a.C. Se ele não viveu ao tempo de ultrapassar o ano novo em 464 a.C., ele deve ter tido, somente um ano de ascensão pelo reconhecimento persa-babilônico e não viveu para completar o primeiro ano de reinado.
Pode ser objetado que nós não temos evidência escriturística direta do seu reinado. É baseado somente numa inferência das deduções de Celsius, Deodoro, e Trogus Pompeius. Mas o mesmo também é também verdade de algum período de ascensão de Artaxerxes I, no final de em 465 a.C. A dedução dos escritores clássicos é também mais direta para Dario do que para Artaxerxes, porque os autores reconhecem Dario como o primogênito de Xerxes e herdeiro do trono. Uma vez que ele viveu depois da morte de Xerxes, até ser assassinado por Artabanus, ele, e não Artaxerxes, deveria, ter sido rei por pelo menos uma parte do segundo semestre de 465 a.C.

palacio do rei dario

Evidências Potenciais de Documentos em Tabletes

Uma objeção notada aqui é que não existe, no presente, evidências escriturísticas contemporâneas de Dario, o filho de Xerxes, como rei. Pode ter existido alguma, mas deve ter sido suprimida por Artabanus ou Artaxerxes, ou ambos. Devido ao fato de ter governado por um breve tempo, não deve ter sido difícil esconder aquelas pistas. Por outro lado, evidências desse reinado podem existir entre os tabletes de contratos da Babilônia. Eles podem ser classificados do seguinte modo:
Aqueles documentos comuns de negócios não fazem distinção entre os Darios neles mencionados: Dario I,II ou III; Hystaspes, Northus ou Codomanus. Estas designações adicionais não eram usadas nas linhas daqueles tabletes, eles somente mencionam o dia, o mês, o ano de reinado com o nome Dario e o título real “Reis da Terras”.
Tabletes do reinado de Dario III, o rei conquistado por Alexandre, virtualmente não existem. É trabalho do historiador, portanto, classificar os tabletes que informam de Dario “Rei das Terras”, para ver se eles pertencem a Dario I, II, ou agora, ao filho de Xerxes. É necessário somente checar o ano de ascensão para achar este Dario adicional, pois ele foi assassinado antes de seu primeiro ano de reinado. Várias coleções desses tabletes e seus catálogos têm sido publicados. Eu listei uma poção deles nos dois primeiros estudos.12
Uma vez que uma apropriada datação dos tabletes é feita, eles precisam ser atribuídas ao Dario certo por um estudo dos nomes pessoais no texto. À partir dos anos de ascensão desses três governantes nomeados Dario que foram, respectivamente, 522,465 e 423 a.C., não deve haver significante, sobreposição entre o pessoal deles, e eles podem estar relacionados a pessoas em outros textos daqueles tempos.
Pode ser que mesmo seguindo este procedimento nenhum texto correspondente a Dario, o filho de Xerxes, seja encontrado, porque este curso de eventos pode ter sido conhecido apenas na Pérsia e a narração deles pode não ter alcançado Babilônia. Por outro lado, a evidência pode estar ali, mas ainda não foi reconhecida. Fora os tabletes da Fortaleza de Persépolis, textos da Pérsia Antiga não são tão comuns quanto são o da Babilônia.

persépolis

Sumário

O modo preferível para ler Ctesius, Diodorus, e Trogus Pompeius, é tomar Dario, o primogênito e herdeiro do trono de Xerxes, como tendo realmente ascendido à posição de rei após a morte de seu pai. Contudo, Seu breve reinado foi interrompido por um complô urdido contra ele por Artabanus e seu irmão mais novo, Artaxerxes. Na luta pelo poder após a morte de Dario, Artaxerxes venceu e Artabanus foi derrotado. Artaxerxes, um jovem rei, ocupou o trono pelos próximos quarenta anos, até 423 a.C.

Quanto tempo Dado reinou entre Xerxes e Artaxerxes? Sem dúvida, não por muito tempo, mas se seu breve reinado durou só tão pouco quanto seis semanas, em agosto ou setembro, isto deveria colocar a ascensão de Artaxerxes após 1° de Tishri de acordo com o calendário de outono a outono. De acordo com este tipo de cálculo, seu primeiro ano completo de reinado deveria ter se estendido do final de 464 ao final de 463, e seu sétimo ano do final de 458 ao final de 457. Qualquer que seja o curso preciso que ocorreu durante este tempo problemático, é razoável estimar o curso cronológico descrito aqui. A falta de documentação entre os meses de 465 a.C. pode não ser justamente um acidente de (não-) descoberta, mas pode ter ocorrido por causa da supressão real feita por Artaxerxes. Este foi o ponto de vista que Ctesius e outros escritores clássicos receberam daquelas histórias.

1 Traduzido do original: “Who Succeeded Xerxes on the Throne of Pérsia?”, publicado
no Journal of the Adventist Theological Society, 12/1 (Spring, 2001: 83-88).
2 Aposentado recentemente de uma posição assumida por muito tempo com diretor
associado do Biblical Research Institute at the General Conference of the Seventh-day
Adventists. Anteriormente, ensinou no Old Testament Department od the SDA Theological
Seminary at Andrews University e foi um missionário na América Latina. Ele recebeu
o título de M. D. pela Loma Linda University e um Ph.D. em Estudos do Oriente Próximo
da University of Michigan. Shea tem produzido duzentos artigos e quatro livros, com atenção
especial para o livro de Daniel. Um festschrift em sua honra foi publicado em 1997.
3 Parker and Dubbestern, Babylonian Cronology 626 B.C.-A.D. 75 (Providence:
Brown U, 1956), 17.
4 Ibid., 18. S. H. Hom e L.11. Wood, 77w Chronology of Ezra 7 (Vvrashinton,
D.C.: Review and Hera1c1), 135-138.
5 S. H. Horn e L.H. Wood, The Chronology of Ezra 7 (Washinton, D.C.: Review
and Herald), 135-138.
6 Neuffer, 68.
7 Reviewed by Neuffer, 64-65.
8 Ctesius, Persica (resumo por Photius, Brussels, 1947), 33-35.
9 Diodorus Siculus, xi.69.1-6, xi.71.1 (Leob Classical Library), IV, 304-307, 308-309.
10 Transmitido por Sculus Frontinus, History of World Extracted From Trogus
Pompeius, xiii.1 em John Selby Watson, trans., Justin Cornelius Nepos, e Entropius (London,
1876), 37-38. Eu devo as duas referências anteriores a Neuffer, 64-66.
11 Esta propensão para propaganda entre os primeiros reis persas tem sido vista
recente e acuradamente por S. Doutas Whaterhouse em seu excelente artigo “Why Was
Darius the Mede Expunged of History?” em To Understand the Scriptures, ed. D. Merling
(Berrien Springs, MI: Horn Archaelogical Museun of Andrews U, 1997), 173-190.
12 “An Unrecognized Vassal King of Babylon in the Achaemenid Period”, partes I
e II, AUSS9 (1971):51-67,100-128.

Fonte: Revista Hermenêutica, volume 3, 2003, IAENE.