As Festas do Calendário Israelita 3ª Parte – Pêssah/Páscoa e Ha Matzot/ Pães Asmos (revisado)


                        Quando o pedido para o livramento de Israel fora pela primeira vez apresentado ao rei do Egito, fizera-se a advertência das mais terríveis pragas. Foi ordenado a Moisés dizer a Faraó: “Assim diz o Eterno: Israel é Meu filho, Meu primogênito… Posto que desprezados pelos egípcios, os israelitas haviam sido honrados por D’us, tendo sido separados para serem os depositários de Sua lei. Nas bênçãos e privilégios especiais a eles conferidos, tinham preeminência entre as nações, como tinha o filho primogênito entre seus irmãos.

Egito I

                        O juízo de que o Egito fora em primeiro lugar advertido deveria ser o último a ser mandado. D’us é longânimo e cheio de misericórdia. Tem terno cuidado pelos seres formados à Sua imagem. Se a perda das suas colheitas, rebanhos e gado, houvesse levado o Egito ao arrependimento, os filhos não teriam sido atingidos; mas a nação obstinadamente resistiu à ordem divina, e agora o golpe final estava prestes a ser desferido…

            Antes da execução desta sentença, o Eterno por meio de Moisés deu instruções aos filhos de Israel relativas à partida do Egito, e especialmente para a sua preservação no juízo por vir. Cada família, sozinha ou ligada com outras, deveria matar um cordeiro ou cabrito “sem defeito”, e com um molho de hissopo espargir seu sangue “os dois umbrais e sobre as vergas das portas” da casa, para que o anjo destruidor, vindo à meia-noite, não entrasse naquela habitação. Deviam comer a carne, assada, com pão asmo e ervas amargosas, à noite, conforme disse Moisés, com

“vossas cinturas cingidas, vossos sapatos nos pés e vossos cajados em vossas mãos, e o comereis com pressa, pois é o Pêssah do Eterno”. Shemot/Êx. 12:1-28.[i]

“ E o sangue será para vós por sinal, sobre as casas em que estejais lá, e verei o sangue e saltarei sobre vós, e não haverá em vós a praga do destruidor…” Shemot/Êx. 12;13

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            Em comemoração a este grande livramento, uma festa devia ser observada anualmente pelo povo de Israel, em todas as gerações futuras.

“E este dia será para vós por lembrança, e o celebrareis como uma festa do Eterno por vossas gerações; como um estatuto perpétuo, o celebrareis.” Shemot/Êx. 12:14

            Ao observarem esta festa nos anos futuros, deviam repetir aos filhos a história deste grande livramento, conforme lhes ordenou Moisés:

“É o sacrifício de Pêssah para o Eterno, que saltou sobre as casas dos filhos de Israel no Egito…”Shemot/Êx. 12:27

            A páscoa devia ser tanto comemorativa como típica, apontando não somente para o livramento do Egito, mas, no futuro, para o maior livramento que o Mashiach cumpriria libertando Seu povo do cativeiro do pecado/chet. O cordeiro sacrifical representa o “Cordeiro de D’us”, em quem se acha nossa única esperança de salvação/yeshu’ah. Diz Shaul:

“…o nosso cordeiro de Pesach, o Messias, foi sacrificado.” I Cor. 5:7. [ii]

sacrificio III

            Não bastava que o cordeiro pascal fosse morto, seu sangue devia ser aspergido nas ombreiras; assim os méritos do sangue do Mashiach devem ser aplicados à alma. Devemos crer que Ele morreu não somente pelo mundo, mas que morreu por nós individualmente. Devemos tomar para o nosso proveito a virtude do sacrifício expiatório. O hissopo empregado na aspersão do sangue era símbolo da purificação, assim sendo usado na purificação da lepra e dos que se achavam contaminados pelo contato com cadáveres. Na oração do salmista vê-se também a sua significação:

“Asperge-me com hissopo até que eu me purifique; lava-me até que u me torne mais alvo que a neve.” Tehilim/Salmo 51:9.

            O cordeiro devia ser preparado em seu todo, não lhe sendo quebrado nenhum osso; assim, osso algum seria quebrado do Cordeiro de D’us, que por nós devia morrer. Shemot/Êx. 12:46; João 19:36. Assim também representava-se a inteireza do sacrifício do Machiach. A carne devia ser comida. Não basta mesmo que creiamos em Yeshua/Jesus para o perdão dos pecados; devemos pela fé estar recebendo constantemente força e nutrição espiritual dEle, mediante Sua Palavra. Disse o Mashiach:

“Sim, eu lhes digo: a menos que comam a carne do Filho do Homem e bebam seu sangue, vocês não têm vida em si mesmos. Quem come minha carne e bebe meu sangue possui vida eterna – isto é, eu o ressuscitarei no último dia… as palavras que lhes disse são Espírito e vida.” Yochanan/João 6:53, 54 e 63.

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            Yeshua/Jesus aceitou a Torah de Seu Pai, levou a efeito em Sua vida os princípios da mesma, manifestou-lhe o espírito, e mostrou o seu benéfico poder no coração. Diz Yochanan/João:

“A Palavra se tornou um ser humano e viveu entre nós, e vimos sua Sh’khinah, a Sh’khinah do Filho único do Pai, repleto de graça e verdade.” Yochanan/João 1:14.

            Os seguidores do Mashiach devem ser participantes de Sua experiência. Devem receber e assimilar a Palavra de D’us de modo que esta se torne a força impulsora da vida e das ações. Pelo poder do Mashiach devem ser transformados à Sua semelhança, e refletir os atributos divinos. Devem comer a carne e beber o sangue do Filho do homem, ou não haverá vida neles. O espírito e a obra  do Mashiach devem tornar-se o espírito e obra de Seus discípulos. O cordeiro devia ser comido com ervas amargosas, indicando isto a amargura do cativeiro egípcio. Assim, quando nos alimentamos do Mashiach, deve ser com contrição de coração, por causa de nossos pecados. O uso dos pães asmos/matza  era também significativo. Era expressamente estipulado na lei de Pêssah/Páscoa, e de maneira igualmente estrita observado pelos judeus, em seu costume, que fermento algum se encontrasse em suas casas durante a festa. De modo semelhante, o fermento/hametz do pecado devia ser afastado de todos os que recebessem vida e nutrição do Mashiach. Assim Shaul/Paulo escreve à congregação dos coríntios:

“Livrem-se do velho hametz, para poderem ser uma nova massa, porque na verdade vocês estão sem fermento. Pois nosso cordeiro de Pesach, o Messias, foi sacrificado. Dessa forma, celebremos o seder sem qualquer vestígio de hametz, o hametz da impiedade e do mal, mas com a matzah da pureza e da verdade..” I Cor. 5:7 e 8.

1. “O fermento devia ser totalmente excluído. Ele representa maldade, a malícia (I Cor. 05:08) e a falsa doutrina, como exemplificado nos ensinos dos fariseus, saduceus e herodianos (Mat. 16:06, 12; Marc. 08:15).
2. O fermento dos fariseus era avareza e injustiça (Mat. 23:14), cobiça (v.13), falso zelo (v.15), avaliação equivocada dos valores espirituais (v. 16-22), omissão da justiça, misericórdia e fé (v.23), meticulosidade vã (v. 24), hipocrisia (v. 25-28), intolerância (v. 29-33) e crueldade (v. 34-36).
3. O fermento dos saduceus era o ceticismo (Mat. 22:23) e a falta de conhecimento das Escrituras e do poder de Deus (v.29).
4. O fermento dos herodianos era a lisonja, a mente mundana e a hipocrisia (v. 16-21) e conspirar contra os representantes de Deus (Marc. 03:06). Comentário Bíblico Adventista pág.871, vol. 1, CPB.

            Antes de obterem liberdade, os escravos deviam mostrar fé no grande livramento prestes a realizar-se. O sinal de sangue devia ser posto em suas casas, e deviam, com as famílias, separar-se dos egípcios e reunir-se dentro de suas próprias habitações. Houvessem os israelitas desrespeitado em qualquer particular as instruções a eles dadas, houvessem negligenciado separar seus filhos dos egípcios, houvessem morto o cordeiro mas deixado de aspergir o sangue nas ombreiras, ou tivesse alguém saído de casa, e não teriam estado livres de perigo. Poderiam honestamente ter crido haver feito tudo quanto era necessário, mas não os teria salvo a sua sinceridade. PP p 273 a 280

O Último Seder de Pêssah

            Chegara o tempo em que Yeshua/Jesus devia comemorar a festividade com Seus discípulos e pediu a Kefa/Pedro e a Yochanan/João que encontrassem um lugar e preparassem o Seder de Pêssah.

            Centenas de pessoas vinham a Jerusalém para a celebração e os habitantes da cidade se dispunham a ceder um cômodo da casa para os visitantes fazerem sua celebração.

            O Salvador dissera a Kefa/Pedro e a Yochanan/João que ao saírem pelas ruas encontrariam um homem com um cântaro de água. Deveriam então segui-lo até a casa em que entrasse e dizer ao dono da casa:

“O Rabbi lhe diz: Onde é o salão de hóspedes no qual comerei a refeição de Pesach com meus talmidim?”

Lucas 22:11.

            Esse homem deveria então mostrar-lhes uma sala espaçosa no andar superior da casa, provida com tudo de que precisavam e ali deveriam preparar a ceia pascal. Tudo aconteceu conforme Yeshua/Jesus havia dito.

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            Na hora da ceia, os discípulos estavam a sós com Yeshua/Jesus. O tempo que haviam passado em companhia do Mestre, nessas festas, havia sido sempre uma ocasião de grande alegria; agora, porém, Yeshua/Jesus estava com o espírito atribulado.

            Finalmente, disse-lhes com a voz embargada pela tristeza:

“Desejei muito celebrar este seder com vocês antes da minha morte!.” Lucas 22:15.

            Tomando da mesa um cálice de vinho não fermentado, disse:

“Peguem isto e partilhem entre si. Porque eu lhes digo que de agora em diante não beberei do fruto da videira até que venha o Reino de Deus.” Lucas 22:17, 18.

            Era a última vez que Yeshua/Jesus celebrava a Pêssah/Páscoa com Seus discípulos. Era também a última Pêssah/Páscoa que devia ser celebrada na Terra, porque o sacrifício do cordeiro deveria ensinar às pessoas que um dia o Mashiach, o Cordeiro de D’us, viria para morrer pelos pecados do mundo. Assim, com Sua morte, não haveria mais necessidade de imolar o cordeiro quando Seu sacrifício estivesse consumado. A Festa de Pêssah estava indissoluvelmente associada ao sacrifício e ao Templo, o lugar que Ele escolheu para o Seu nome.

Em Sua memória, até que Ele venha

            Estando todos em silêncio, à mesa, Yeshua/Jesus tomou o pão :

“Também, pegando um pedaço de matzah, disse a b’rakhah, partiu-a e, dando-a a eles, disse: “Isto é meu corpo, dado por vocês; façam isto em memória de mim”. Lucas 22:19.

             Ao contrário do que estranhamente alguns possam crer, a matzah, é somente símbolo do corpo sem pecado dEle,isto é, sem a natureza pós pecado, como o segundo Adam e como Cordeiro sem manchas, máculas ou defeitos deveria ser. Ele é o pão que desceu do Céu e é nEle que encontramos justiça. Não há aqui menção a uma extinção da natureza pecaminosa no crente, isto só acontecerá no acharit ha-iamim/nos últimos dias:

             “…todos seremos modificados! será em um instante, em um piscar de olhos, no shofar final. porque o shofar soará, e os mortos serão ressuscitados para viver para sempre e nós também seremos transformados…” I Cor. 15:51,52. 

            Ele fez o mesmo com o cálice após a refeição, dizendo:

“Este cálice é a Nova Aliança, confirmada pelo meu sangue, derramado por vocês.” Lucas 22:20.

            Diz a Bíblia:

“Porque, todas as vezes que vocês comerem este pão e beberem do cálice, anunciam a morte do Senhor até ele vir.” 1 Coríntios 11:26.

Festas  Detalhes ofertas queimadas

            O pão e o vinho representam o corpo e o sangue de Yeshua/Jesus. Assim como o pão foi partido e o vinho tomado, o corpo de Yeshua/Jesus foi partido e Seu sangue derramado por nós.

            Esta atitude de Yeshua/Jesus não é estranha à cultura e costumes hebreus. No lar judaico, em especial no cabalat Shabbat, o simbolismo do sal salpicado sobre o chalá, o pão trançado lembrando os sacrifícios feitos no Templo é acompanhado do vinho, porque ‘após a destruição do Templo de Jerusalém o lar tornou-se um santuário, e a mesa, um altar’. 

            Comendo o pão e bebendo o vinho, em memória dEle, demonstramos que cremos neste fato. Mostramos que nos arrependemos de nossos pecados e que aceitamos ao Mashiach como nosso Salvador.  

“A Torah tem em si uma sombra das coisas boas que virão, mas não a manifestação real das coisas originais. Portanto, ela nunca pôde, mediante os mesmos sacrifícios repetidos incessantemente, ano após ano,  conduzir ao objetivo quem se aproximava do Lugar Sagrado para oferecê-los. De outra forma, não teria, cessado a oferta desses sacrifícios?

Se as pessoas que realizavam o sacrifício tivessem sido purificadas de uma vez por todas, não mais teriam consciência do pecado. Não, ocorre ao contrário – nesses sacrifícios, há uma recordação dos pecados, ano após ano. Porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.

Esta é a razão pela qual, ao entrar no mundo, ele diz:

“Não é tua vontade receber sacrifício animal e oferta de alimento; ao contrário, um corpo me preparaste. Não, tu não te tens agradado as ofertas queimadas e dos sacrifícios pelo pecado. Então eu disse: ‘Vejam!’ No rolo está escrito a meu respeito. Vim para realizar tua vontade” (citação de Tehillim/Salmo 40:07-09 (06-08).

Primeiro ele disse: “Tu não desejaste, nem te agradaste de sacrifícios animais, oferta de alimento, ofertas queimadas e dos sacrifícios pelo pecado”, os quais eram realizados de acordo com a Torah; e então: “Aqui estou para cumprir tua vontade”; ele cancela o primeiro sistema para estabelecer o segundo. Em conexão com sua vontade, fomos separados para Deus e feitos santos, de uma vez por todas, pela oferta do corpo de Yeshua, o Messias.

Dia após dia, todo kohen se apresenta e realizam seus serviços, oferecendo vez após vez os mesmos sacrifícios, que nunca podem remover pecados. Mas este, quando acabou de oferecer, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, sentou-se à direita de Deus e passou a esperar, dai em diante, até que seus inimigos sejam colocados como estado dos seus pés. Por meio de um único sacrifício, ele conduziu ao objetivo, de uma vez por todas, os que estão sendo separados por Deus para serem santos. O Ruach HaKodesh nos dá o testemunho; porque, depois de dizer:

“Esta é a aliança que farei com eles depois daqueles diz, Adonai; porei minha Torah em seu coração e a escreverei em sua mente”. (Citação Yirmeyahu/Jeremias 31:32,33.)

A seguir, acrescenta:

“Dos pecados e das iniquidades deles não me lembrarei mais.” (34)

Onde há perdão desses pecados, o sacrifício não é mais necessário.” Hebreus 10:01-18.

            Enquanto participavam da ceia, os discípulos perceberam o sofrimento de Yeshua/Jesus. Uma atmosfera de tristeza contagiou a todos, e comiam em silêncio.

Jesus em Nazaré, na sinagoga e vai para Jerusalém onde expulsa os cambistas 007

            Finalmente, Yeshua/Jesus orou por eles, pedindo a D’us que os livrasse do mal e que amassem um ao outro assim como Ele os amava, orou também por todos os que um dia O aceitariam como Mashiach do mesmo modo que orou pelos Seus primeiros discípulos, dizendo:

“Oro não apenas por eles, mas também por aqueles que confiarão em mim, por causa da palavra deles, para que todos sejam um, como tu, Pai, estás unido a mim, e eu, a ti. Oro para que eles também estejam unidos a nós para que o mundo creia que tu me enviaste…” João 17:20,21.

“Assim que Yeshua saiu do templo e seguia adiante, os talmidim se aproximaram dele e chamaram sua atenção para os edifícios do templo. Mas ele lhes respondeu: “Vocês veem tudo isto? Eu lhes digo que eles serão totalmente destruídos – nem uma pedra ficará em pé! Mattityahu/Mateus 24:01,02.

             No ano 70 d.C. o Templo de Jerusalém foi destruído pelos exércitos romanos finalizando definitivamente seus sacrifícios e suas ordenanças, e as sombras do estatuto perpétuo passaram ficando somente o perpétuo Cordeiro apontado pelo estatuto, ficando somente a realidade!

 

 fonte: Pesquisado, editado e elaborado por Herança Judaica, Wladimir. 

           

 

 

[i] Salvo indicação a versão que utilizamos é a Bíblia Sêfer.

[ii] Salvo indicação a versão que utilizamos para o B’rit Hadashah/Novo Testamento é a Bíblia Judaica Completa.